Escola dos anões
A dona Graciete, professora à antiga, com laivos de direita que nos obrigava a rezar ao início e ao fim da aula, que não hesitava em usar uma régua que de régua só tinha o nome, porque escala não tinha e era bem mais grossa que uma régua normal, que de vez em quando perdia a cabeça e nos deixava jogar ao mata durante o tempo de aula (apesar de nós fazermos muito barulho) e que encorajava as minhas longuíssimas composições com classificações que ela inventava (acho que fui a única miúda que apanhava Óptimos com ela) ensinou-me bem.
Foi ela que ofereceu o primeiro livro que eu li, chamava-se a Escola dos Anões e ofereceu-mo ainda eu não sabia ler, durante meses e meses folheei o livro e inventei histórias para as imagens. E um dia, comecei a juntar letras, ainda o ano não tinha acabado, e percebi para meu grande espanto que a história que o meu livro contava era em tudo diferente da história que eu imaginava. Comecei a pensar se não seria assim com todos os livros, e por consequência comecei a ler todos os livros a que me podia agarrar, e os títulos que sugeriam uma coisa, junto com as capas, eram sempre, sempre diferentes daquilo que eu imaginava. A minha curiosidade tinha que devorá-los.
E como sempre li muito sempre consegui evitar certos erros básicos a português que costumo ver por aí (isso e as palavras difíceis que a dona Graciete nos obrigava a fazer como trabalho de casa todos os santos dias...confesso que já na tabuada não houve grande sorte, porque apesar de nos obrigar a escrevê-la todos os dias várias vezes cada uma ainda hoje a tabuada dos sete anda muito tremida...).
Por isso, odeio ver que há gente que consegue o grande feito de escrever "você" com c de cedilha. Ou achar que por qualquer razão palavras que acabam em "mos" por qualquer razão têm que estar separadas por um hífen. Fico muito, muito furiosa. Não espero que todos sejamos um poço de cultura e rectidão mas acho que há limites para tudo. Até para as cedilhas. E para os hífens.
E a minha professora, que eu sonhava que um dia conseguisse ensinar os meus filhos tão bem quanto me ensinou a mim, mas que entretanto se juntou já há muitos anos aos que não convivem connosco neste planeta, pelos vistos saiu dele cedo demais; aparentemente, ainda há muitas reguadas que ficaram por dar.
Foi ela que ofereceu o primeiro livro que eu li, chamava-se a Escola dos Anões e ofereceu-mo ainda eu não sabia ler, durante meses e meses folheei o livro e inventei histórias para as imagens. E um dia, comecei a juntar letras, ainda o ano não tinha acabado, e percebi para meu grande espanto que a história que o meu livro contava era em tudo diferente da história que eu imaginava. Comecei a pensar se não seria assim com todos os livros, e por consequência comecei a ler todos os livros a que me podia agarrar, e os títulos que sugeriam uma coisa, junto com as capas, eram sempre, sempre diferentes daquilo que eu imaginava. A minha curiosidade tinha que devorá-los.
E como sempre li muito sempre consegui evitar certos erros básicos a português que costumo ver por aí (isso e as palavras difíceis que a dona Graciete nos obrigava a fazer como trabalho de casa todos os santos dias...confesso que já na tabuada não houve grande sorte, porque apesar de nos obrigar a escrevê-la todos os dias várias vezes cada uma ainda hoje a tabuada dos sete anda muito tremida...).
Por isso, odeio ver que há gente que consegue o grande feito de escrever "você" com c de cedilha. Ou achar que por qualquer razão palavras que acabam em "mos" por qualquer razão têm que estar separadas por um hífen. Fico muito, muito furiosa. Não espero que todos sejamos um poço de cultura e rectidão mas acho que há limites para tudo. Até para as cedilhas. E para os hífens.
E a minha professora, que eu sonhava que um dia conseguisse ensinar os meus filhos tão bem quanto me ensinou a mim, mas que entretanto se juntou já há muitos anos aos que não convivem connosco neste planeta, pelos vistos saiu dele cedo demais; aparentemente, ainda há muitas reguadas que ficaram por dar.
2 Comments:
Resolve-se com uma régua, dizes tu? Se fosse por aí, também me apetecia distribuir reguadas a torto e a direito... Inclusivé a uns e outros que dizem que são ADVOGADOS, mas aquilo só apetece devolver-lhes os documentos e e-mails todos assinalados a vermelho, com um "PÉSSIMO" em letras garrafais.
Bolas, dei a entender que se resolvia com uma reguada? Daqui a nada tenho a APAV e todas as instituições de apoio às crianças à perna...
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