sexta-feira, outubro 13

back to the future, step by step

Durante os meus já comentados anos da adolescência eu cometi a proeza de ser fã. O que até nem é grande proeza, na verdade é até uma grande estupidez.

once upon a time....

E é uma estupidez que se torna ainda maior quando depois destes anos todos se percebe que nada de bom saiu daquele grupo. Quer-se dizer, hoje em dia os Beatles são considerados o melhor grupo da história da música (e quem é que não se lembra de ver fãs histéricas a preto e branco de cada vez que eles tocavam em algum lado), os Take That serviram para lançar o Robbie Williams e os N'Sync para lançar o Justin Timberlake (com todos os seus defeitos e todas as suas virtudes) e outros grupos contribuíram para ao menos lançar uma música ou outra que acabaram por ficar por aí e que se tornaram clássicos (o A. adora os Monkees e o seu I'm a believer, por exemplo, e ele não é propriamente do tipo de ficar histérico e a puxar os cabelos...acho eu).

E do meu grupo, o que resta? Depois de milhões e milhões de discos vendidos, de digressões que enchiam estádios e estádios por todo o mundo (e que já agora nunca encheram estádios portugueses, aproveito para lhes agradecer desde já a atenção prestada), de merchandising que esgotava mal chegava às lojas (e para que é que alguém quereria berlindes com a imagem deles era algo que me transcendia, até mesmo naquela época), de vídeos e vídeos e vídeos e até de uma série de desenhos animados, o silêncio.

Ou seria melhor o silêncio. O que resta mesmo é a decadência. Ouço dizer que um deles é agente imobiliário. Outro anda a tentar ser actor (e volta e meia até consegue um papelito num filme ou numa série, por norma a fazer de drogadinho). Um deles não sei o que anda a fazer de todo. O outro andou a fazer música e chegou a lançar um álbum, mas quase nada saiu dali. Tal como o outro, o meu favorito, ainda por cima, que deve andar um bocadinho curto de dinheiro, tadito, porque entre posar semi-despido para a Playgirl, participar no Dancing with the stars e andar a mandar discos que pelos vistos quase ninguém compra (eu pelo menos nunca vi nenhum à venda por cá, deve querer dizer algo) é mesmo o mais decadente deles todos.

E fico eu a pensar (mais uma vez) no tempo desperdiçado, no dinheiro gasto em revistas que vão dar uma trabalheira a reciclar, na imaginação desperdiçada, na garganta rouca e nas lágrimas derramadas (sim, porque eu era fã, fã, fã, daquelas que choravam, e gritavam, e pulavam).

E ao mesmo tempo fico a pensar que não era apenas eu, era eu mais três amigas, as quatro inseparáveis, as quatro a imaginar histórias e a fazer planos e a ver vídeos e a ouvir músicas e a cantar e a pensar em sintonia durante vinte e quatro horas por dia.

E mesmo que ache que de facto foi um desperdício de energia e de tempo e de dinheiro, quando não estou com a neura como ando nestes dias admito que até teve a sua piada. E há sempre pelo menos um dia no ano em que eu me (re)lembro de tudo. Foi um dia que começou por ser apenas um encontro entre duas amigas para ver um filme e que acabou por reunir um grupo de amigas naqueles anos que dizem definir a personalidade. E apesar de não termos cumprido a nossa promessa, apesar de cada uma ter seguido o seu caminho, apesar de (sei-o hoje) termo-nos feito muito mais mal que bem umas às outras, apesar de já ter sido há tanto tempo que já nem consigo ter saudades da nossa amizade, durante uns anos éramos amigas mais amigas que tudo e partilhávamos um sonho.

E isso devo-o a um grupo de música que nada deixou para a posteridade...