segunda-feira, outubro 2

Home sweet home

As casas envelhecem mais do que as pessoas, digam o que disserem. Ora bem, eu tenho trinta anos e não estou precisamente com os pés para a cova (pelo menos por enquanto).

A casa onde eu cresci está a morrer (e nem por isso muito lentamente). Entre outras maleitas o autoclismo (que é de parede, à boa maneira dos anos setenta) não funciona, três quartos das torneiras pingam e pingam e pingam, o fantástico do parquet (que é lindíssimo, apesar de tudo) está todo esburacado e a saltar, o estuque do tecto do meu quarto vai cair mais mês menos mês, a instalação eléctrica da cozinha está moribunda e por aí fora.

A casa vai fazer uma plástica, vai ficar irreconhecível, vai ficar fantástica maravilhosa, com ar condicionado e vidros duplos e estores térmicos e fantásticos azulejos ultra-modernos ultra-minimalistas e a bela da cozinha de carvalho (com o veio na horizontal, super-chique).

Mas isto de mexer no passado é sempre mexer no passado, e mesmo que seja para melhor mexer nas recordações é sempre nostálgico.

Ou seja, lá se vai o tanque onde quando eu lá cabia adorava tomar banho. Lá se vai o parquet, aquele que esteve coberto de vinil a maior parte da minha infância. A banheira onde eu tomava banho de espuma super-desenvolvida (anos e anos a aperfeiçoar a técnica de fazer crescer a espuma três palmos). Os armários de cozinha que eu mais a minha amiga mais antiga um dia limpámos com tanta energia, convicção e carinho (de tal maneira que a minha mãe quando os viu ía caindo para o lado, pois como é óbvio estavam completamente nojentos).

Mas a casa, pequenina, vai ser sempre a casa onde cresci. Vou sempre poder contar à minha prole (quando a tiver) histórias fantásticas de como eu um dia usei cola de madeira para colar um desenho meu na parede (arruinando ao mesmo tempo a parede onde o coloquei).

Embora as marcas não estejam lá.