quarta-feira, maio 31

Hauru No Ugoku Shiro

Acabei de ver, para dar um ar de chique coloquei o título em versão original, mas cá no nosso cantinho é mais conhecido como O castelo andante.

Nestes dias é complicado convencer o meu gosto cada vez mais refinado (por refinado leia-se "esquisito", ando com uma grave crise de "não gosto de nada") e o meu gosto está totalmente convencido.

CasteloAndante

O filme é sobre montanhas, bruxas, espantalhos, lagos, palácios, chapéus, magia, guerra, lugares secretos, feiticeiros, poesia, pequenas cidades e meninas (e casas que andam, pois claro!).

Faz-nos sentir pequeninos outra vez, sentados em frente ao ecrã de olhos arregalados, a acreditar em magia e em feitiços e em quebrar os feitiços apenas porque sentimos e somos humanos.

E faz chorar de tão bonito...

domingo, maio 28

Patience

Fazer um zapping a estas horas da noite às vezes dá nisto: surpreendo-me com um directo do Rock in Rio (mesmo, para quê gastar cinquenta e tal euros num bilhete...) e com quem, com quem? Com o senhor Axl Rose, numa formação a que ele gosta de chamar Guns'n'roses apenas porque pode, porque isto de Guns'n'roses não tem nada.

Ou melhor, dou de caras com um asmático Axl Rose que nem pode com o corpo quanto mais com a voz, gordo que nem um pote e com uma espécie de crise de identidade (mas o Axl agora quer ser negro? Trancinhas, crucifixos dourados - bling - e ténis brancos? Só falta começar a cantar o Walk this way, mas a parte dos Run DMC, não a dos Aerosmith).

O Axl Rose não é mesmo muito inteligente, e está mesmo provado. Músicos inteligentes com mau feitio suicidam-se, logo de uma vez ou a pouco e pouco. A falta de talento (se existe) é imediatamente apagada por todas as coisas que ficaram por dizer, todos os concertos que ficaram por dar e toda a fantástica música que ficou por fazer. Ao Axl até lhe perdoávamos o amuo do concerto de há anos tivesse ele morrido uns tempos depois. Agora a humilhação é mais que evidente...

Há casos em que de facto perdemos pessoas cedo demais. Há outros em que já as perdemos, mas elas teimam em considerar-se vivas. Axl, darling, por favor, a tua cripta espera-te.

Este post é para todos aqueles que já julgavam que o bicho furioso ía pá reforma. Não, o mau feitio continua (e cada vez pior).

sexta-feira, maio 19

Ghetto ballet

Começámos a vê-los recentemente, em vídeos musicais, movimentos que mais parecem espasmos, coreografias que mais parecem lutas, alguns de cara pintada, outros nem por isso, mas na verdade já existem desde 1992, logo após os tumultos causados pelo veredicto absurdo do julgamento contra os polícias que bateram em Rodney King.

Danças tribais que não o são mas só porque são feitas hoje...e porque o contexto é muito, muito diferente.

Surge num sítio onde os bairros difíceis são mesmo difíceis, os tiros e as drogas mesmo ao lado da porta e onde vestir a cor errada pode ser fatal.

Mas até aí existem opções...podes juntar-te a um gang...ou podes optar por ser um clown ou um krumper. A rivalidade existe, os segundos descendem dos primeiros porque queriam "algo mais" e os primeiros nunca os perdoaram. A battlezone é o sítio onde se defrontam e provam que uns são melhores do que os outros...mas nada fica provado, as únicas diferenças são mesmo as máscaras pintadas nas caras de uns e as caras (quase) nuas de outros.

E podia ter sido um movimento underground; podiamos não o ter visto no vídeo Galvanize dos Chemical Brothers ou (pior ainda, porque deste não há mesmo maneira de escapar) no Hung Up da Madonna.

Mas um belo dia, no set do vídeo Dirrty da Christina Aguilera, três bailarinos escolhidos para dançar no vídeo estavam a dançar krumping nos bastidores e o realizador do vídeo ficou extasiado (pelos vistos nunca tinha visto nada assim). E podiamos ter ficado assim, não fosse o realizador do vídeo o mais-que-famoso fotógrafo David Lachapelle. E ele ía lá perder a oportunidade de divulgar este novo modo de vida ao mundo!

rize

Foi assim que surgiu Rize, o documentário que ilustra todo este movimento com o brilho que caracteriza a obra do fotógrafo e com toda a crueza que a própria dança transmite. Mais do que entretenimento, é um modo de sobrevivência, e não acredito que alguém possa ficar indiferente aos movimentos brutais que os corpos destas pessoas produzem...por mais violentos, espasmódicos e desconexos que possam parecer.

O dvd finalmente saiu em Portugal e já está dentro do meu leitor de dvd. Quem quiser mais informação pode dar um pulinho até ao site do realizador, ou seja, [aqui]. Não só têm direito a trailer como podem dar uma olhadela pelas fotos do senhor...(e exclamar várias vezes "ah, esta foto também é dele?").

Quanto ao filme, faço minhas as palavras do New York Post: "The worst part of sitting through Rize is the sitting part."

sexta-feira, maio 12

A minha vida pós IPod e IPod Hifi

O ridículo é tal que comprei um cd novo e a única maneira de o ouvir como-deve-de-ser foi mesmo metê-lo pó IPod...

Acho que ainda não ouvi falar da ITunes Music Store da Apple...

California dreaming

Quando somos adolescentes e estamos todos a passar pela frustração de ser adolescentes as séries que vemos na altura dão-nos pelo menos um consolo: são ficção.

Ou seja, na vida real as pessoas não são todas bonitas e ricas, vestem roupa espanhola, conduzem carros em segunda mão e têm problemas normais como o aparecimento de uma borbulha bem no meio da testa ou o rapaz por quem estou apaixonada não gosta de mim e não o típico enredo de "oh meu Deus, ele dormiu com a madrasta da namorada que por sua vez tem um problema de cleptomania selectiva porque só rouba Prada cuja melhor amiga apenas não descobre porque está grávida do melhor amigo do namorado, sabes, aquele que conduz o BMW cinza prata e cuja mãe está viciada em botox".

E a frustração de "ai quem me dera que a minha vida fosse assim" pode sempre ser contraposta por um "mas ninguém vive assim, é tudo mentira!". Ou era. Porque existe uma série chamada Laguna Beach - cujo subtítulo é the real Orange County.

lagunabeach

Primeiro, são todos bonitos e vestem todos bem. Todos têm a idade que têm. Todos moram em grandes casas. Todos conduzem grandes carros. São californianos, elas são loiras e eles fazem surf.

Fazem barbecues na praia, festas, fins-de-semana de snowboarding e fins de semana de campismo, passam o restante tempo mergulhados em jaccuzzis. A LC gosta do Stephen que por sua vez gosta da Kristin, o Talan gosta da Kristin e finge que não sabe que ela gosta do Stephen.

Pois na minha praia não deixavam fazer barbecues, jacc quê??, não há ondas nem com bandeira amarela, a visita de estudo a Lisboa foram três dias de parvoíce, acampar nem pensar, a S.F. andava com o H. e todos participávamos da relação, as A.L. e a S.V. ganhavam o dia se alguém olhasse para elas, o ponto alto da semana era o sábado à noite na discoteca da terrinha, o D. experimentava drogas e achava que era o Jim Morrisson, a A.M. tinha uns pais supercontroladores que não a deixavam sair, a S. fazia-se a todos os rapazes mas não queria nada com ninguém e eu era o patinho feio.

Por isso é que hoje com os meus trinta anos não consigo deixar de ver cada episódio de Laguna Beach sempre de boca aberta.

Viver numa série para adolescentes, achava eu, era ficção.

terça-feira, maio 9

As alegrias do respigo

Ou em outras palavras, como remexer no lixo e encontrar coisas boas. Até eu já andei no respigo (desculpem, alguém estava a deitar fora uma fantástica cadeira cor-de-laranja e eu levei-a para casa, para depois ter a honra de descobrir que a bela da cadeira era um original Robin Day para a Hille...ah pois é...).

Claro que (achava eu) havia por aí alminhas que andavam a elevar o respigo até novas alturas, chegando mesmo a remexer em sobras de mercados, padarias e supermercados.

Hoje descobri que tudo isto pode ser considerado um novo movimento (chamado freegan, mais informações [aqui]), que alerta para o desperdício que existe no nosso planeta, adoptado por pessoas conscientes de todos os estratos sociais (incluindo executivos de topo, que insistem que o dinheiro que poupam a respigar nos supermercados podem depois empregar a ajudar os pobres...ah, pois, claro, como é que eu não pensei nisto antes? - e por favor ler estes parênteses em tom irónico).

Achava eu (oh meu Deus, num ângulo de visão quase direitista - será que me ando a metamorfesear? vade retro satanás!) que as pessoas que podem pagar uma refeição e a respigam estão a retirar comida daqueles que de facto não podem pagar uma refeição. Pelos vistos estava errada este tempo todo!

Ok, concordo que o desperdício é mais que muito. Que realmente vai muita comida para o lixo quando há tantas pessoas no mundo que passam fome, os protestos dos agricultores que decidem queimar batatas em vez de as dar aos pobres sempre me chatearam um bocadito e até percebo que esta de respigar pode ser uma reacção à nossa sociedade capitalista de consumo.

Mas...e desculpem a minha forma radical de pensar (e infelizmente nestas coisas eu sou muito radical) ou se adopta um estilo de vida ou não se adopta um estilo de vida. Respigar e morar numa casa alugada ou ocupar uma casa e ter um trabalho certinho e pagar impostos também não faz muito sentido. Se estamos a protestar contra o capitalismo deveriamos poder provar que se pode viver sem capital, certo?

Seja como for...associações como a Freecycle não só me parecem úteis como fazem imenso sentido. Vamos supor que me quero desfazer de algo...em vez de jogar fora a minha porta velha, o meu sofá usado ou o piano inútil ponho um anúncio e ofereço o artigo. Ou então vamos supor que eu preciso de uma torneira, de uma máquina de fax ou de uma bicicleta...basta-me ir à procura nos anúncios. Recicla-se, evita-se o desperdício e é tudo grátis! Podem informar-se melhor [aqui].

Cá em Lisboa a Freecycle ainda não funciona; o mais parecido serão as lojas da associação Reto à Esperança. Jovens toxicodependentes restauram peças doadas e vendem-nas a baixo preço, revertendo os lucros para a associação. Dupla função social com o bónus de se encontrarem peças fantásticas dos anos cinquenta a setenta a preços fantásticos. Fica para os lados da Estrada de Benfica, quase ao pé do Jardim Zoológico, logo ao início da Rua Padre Francisco Álvares, num rés-do-chão com cave.

Enfim, respigar ou não respigar, eis a questão...e está aberto o debate!

segunda-feira, maio 1

Quando a Ásia e a Europa colidem

Já estamos todos fartos de ouvir falar da globalização, e ainda mais fartos de viver num mundo onde tanto faz fazer compras em Lisboa como em Londres como em Barcelona como em São Francisco como em Hong Kong.

Todos temos móveis do Ikea, vestimos na Zara ou na Pull and Bear ou na Mango ou se ganharmos bem na Prada ou na Dior ou na Armani; todos bebemos Coca-cola ou 7Up ou Martini ou Moet e Chandon (se formos muito chiques); todos temos algo feito na Índia ou na China ou na Tailândia ou na Formosa e que compramos mil vezes mais caro e que ainda assim é muito barato (comércio justo já!).

Em resumo: todos cheiramos, comemos, bebemos, vestimos e vivemos o mesmo. Portanto, por conseguinte, todos pensamos igual e temos as mesmas ideias.

Por isso é que estamos quase quase a viver uma nova mudança...um novo arts and crafts, uma pequena revolução de coisas feitas e pensadas de maneira diferente, pensadas para serem produzidas em série sim, mas com pequenos laivos de tradição e artesanato.

Faz parte deste movimento a parceria entre Jonathan Levien and Nipa Doshi: um é europeu e adora sapatos, a outra é indiana, nascida e criada. A mistura é explosiva, senão constatem como formas de cozinhar tradicionais se traduzem em objectos de uso contemporâneo.

Mosaic range by Tefal

Só me apetece comer couscous...nham!

Vejam outros trabalhos deles [aqui], vale a pena ver que onde o Ocidente encontra o Oriente, Hollywood e Bollywood também se encontram.