domingo, novembro 30

Coisas que me irritam V

Estar quinze minutos ao frio e à chuva à espera de um autocarro e quando finalmente o senhor digníssimo transporte público resolve aparecer vem acompanhado por outro, igualzinho, logo atrás...

...e quem diria que arranjar (temporariamente) um trabalho mais burguês me traria este tipo de dilemas plebeus?

terça-feira, novembro 18

A Torre dos Sonhos que neste momento é minha mas não tarda muito vai deixar de ser

Isto de se ser um artista convidado lá na Torre dos Sonhos tem mesmo destas coisas: a secretária é minha mas não é minha, o bloco de gavetas da secretária que é minha mas não é minha está ocupadíssimo com coisas que nem sei de quem são, o computador é meu mas não é meu, e finalmente tenho um e-mail todo profissional que é meu mas não é meu por muito tempo.

A paranóia de estar num lugar onde não é suposto estar, e a paranóia ainda mais grande de não se saber mesmo se é aquele o lugar onde se quer ficar, dá cabo de mim. Compro um guarda-roupa inteiro para tentar integrar-me e convencer toda a gente que aquele é o meu lugar natural, ou na verdade não vale a pena porque na verdade divirto-me muito mais na loja?

Começo a vestir-me de cinzento, mudo-me de armas e bagagens para o Bairro Alto, inscrevo-me já na Hermès para comprar a bendita da Birkin (afinal, tenho dois anos para juntar dinheiro....), emagreço dez quilos, minto sobre a minha ascendência humilde e invento um avô conde qualquer (se calhar é melhor arranjar um vizir, sempre dava um pretexto ara o cabelo escuro) e, last but not least, mudo-me já para a ala direita?

...a resposta é bastante óvia, não é?

domingo, novembro 16

E eu que pensava que estava sozinha no mundo....

As pressões constantes por parte de alguns leitores do meu blog para abrir o msn quando estou a trabalhar deixaram-me num verdadeiro dilema durante semanas e semanas...

Não é só a minha compulsão msniana, que não me deixa concentrar em nada, pois assim que vejo o ícone saltar largo tudo, o que como devem imaginar causa assim uma certa dificuldade em tarefas em que seja necessário um mínimo de concentração.

É também achar que me estão a pagar para trabalhar e não para estar na converseta...e acreditem, quando eu estou na converseta, estou na converseta, por mais que me digam que eu depois vou conseguir gerir tudo, acreditem, não vou conseguir gerir tudo.

E depois é o facto de achar que mais ninguém no escritório tem o msn aberto, isto talvez realçado pelo facto de que eu na verdade estou de costas para toda a gente portanto não sei que raio aondam a fazer, ao contrário de todos eles, que têm o meu écran como pano de fundo, qual tela de cinema...

...enfim, pelo menos esse mito já foi abaixo. E publicamente. Qual não é o meu espanto quando na sexta-feira, em alto e bom som, o rapaz da informática que tinha ido lá montar uns computadores vira-se para alguém e anuncia a alto e bom som "Posso sair do seu messenger? É que eu queria pôr o meu!"...

Pode ser que daqui a alguns dias finalmente consiga saber gerir o msn, conseguindo não só escrever um texto lindo e maravilhoso de seguida ao mesmo tempo que tenho uma conversa coerente....agora desculpem, mas tenho que acabar já porque tenho o ícone a saltar!

sexta-feira, novembro 14

Philips 614

Quando eu era miúda, trabalhei na rádio local da santa terrinha. Uma vez por semana, aos sábados à tarde, ía para o estúdio e contava uma história. O meu pagamento era um gelado, cedido gentilmente pelo patrocinador.

Era muito engraçado, e se ao princípio o microfone intimidava um bocadinho, às tantas tornou-se muito natural passar um bocadinho das tardes de sábado num estúdio, rodeada de gente crescida, a ver o técnico mexer nos botões que abriam e fechavam microfones, tocavam música e interrompiam-na quando queriam.

Portanto quando a experiência acabou, arranjei a minha própria rádio, com os meus próprios discos, onde eu tinha liberdade artística não só para contar as minhas histórias mas para cumprimentar todos os meus ouvintes e dizer tudo o que me apetecia dizer.

E tudo o que eu precisava era do gira-discos e de um gravador. Com o tempo, a minha estação de rádio caiu em desuso, o gira-discos desapareceu, e lá se foi mais um bocadinho da minha infância.

Gira-discos

Parece que pela módica quantia de quarenta e cinco euros e um passeio árduo pela feira da ladra se consegue recuperar um bocadinho da minha infância.

E não faz só bons programas de rádio; quando colocado em 33rpm (e não mais do que isso), também serve de carrocel para a bonecada.

domingo, novembro 9

A bruxinha Débora

A bruxinha Débora odeia sapos. E os sapos também não gostam dela (pelo menos, esta é a opinião da bruxinha Débora e ninguém a consegue fazer mudar de ideias).

A bruxinha Débora

Ora para uma pessoa comum, não gostar de sapos não representa um grande problema. Basta fugir deles e pronto. Mas para uma bruxinha não é assim tão fácil, visto que um grande número de feitiços exigem a presença de pelo menos um sapo. Na verdade, são trezentos e setenta e quatro mil, seiscentos e oitenta e dois feitiços. A bruxinha Débora contou-os.

Depois de várias tentativas de lhes pegar (com luvas, de olhos vendados e a suster a respiração) a bruxinha Débora chegou à conclusão de que com luvas, de olhos vendados e a suster a respiração é mesmo muito difícil segurar um sapo.

Portanto para a bruxinha Débora só há duas soluções: perder o medo ou encontrar um ingrediente que consiga substituir os sapos com sucesso nos trezentos e setenta e quatro mil seiscentos e oitenta e dois feitiços que os exigem.

Como Débora é teimosa e não quer fazer as pazes com os sapos, optou pela última hipótese. A bruxinha trancou-se então no seu laboratório a fazer experiências atrás de experiências, tentando encontrar um substituto ideal para os sapos.

A má notícia é que ainda não o conseguiu encontrar. A boa notícia é que por causa da sua nobre intenção de salvar os sapos dos seus temíveis destinos enquanto ingredientes de feitiços, os sapos elegeram-na como “Personalidade do Ano”, facto que escapou completamente à bruxinha Débora, porque está demasiado ocupada para ler jornais, e muito menos jornais para sapos.

Para a bruxinha Débora, a bruxinha mais simpática do mundo que apesar de só nos vir cumprimentar pessoalmente lá para Dezembro, já nos cumprimenta através da barriga da mamã!