Muito se ouve falar da Damaia, dos bairros problemáticos da Damaia, "ah, eu não me importo de morar em qualquer lado, só não queria mesmo era morar na Damaia por causa dos assaltos", que chatice para o concelho da Amadora ter estes problemas de exclusão social, "iiiihhhh....moras na Damaia..." e é Damaia para aqui e Damaia para ali e na verdade acho que ninguém sabe mesmo o que é que se passa por cá.
Para dizer a verdade, nem eu, que já moro por cá há quase dois anos e que de tudo o que se diz não vejo nem metade. Vejo que a Damaia está mesmo ao lado de Lisboa e que o preço das casas é bem mais baixo (a mim dá-me mais jeito ir ao Mercado de Benfica agora do que propriamente quando morava em Benfica...é muito mais perto! Tal como a estação de correios de Benfica fica muito mais a caminho do que os correios da Damaia...), que pelo menos cá pela Damaia de Baixo isto até parece uma vilazinha, bancos, supermercado, pastelaria (já agora, com os melhores pastéis de nata de sempre) e pizzas take away muito, muito boas e feitas na hora, pessoas sempre a passar na rua e nem a farmácia fica longe de casa.
E apesar de chegar sempre tarde e a más horas do trabalho e morar a apenas uma porta de distância de um dos
bairros difíceis nunca tive problemas (bem, tive um, de estar a ver de balcão assaltarem o Fiat Uno do meu namorado, mas pronto, foi a brincadeira de sábado à noite da criançada - o assaltante mais velho devia ter uns treze anos - e pronto, em parte a culpa foi nossa, enfim, os Fiat Uno já são lendários neste tipo de brincadeira e devíamos ter tido mais cuidado) e o que é certo é que mais do que um amigo meu que vive bem no centro de Lisboa já teve problemas bem mais graves...
Este apanágio todo da Damaia é porque de facto as coisas não são bem como as pintam e hoje foi mesmo o dia de deixar de dormir no subúrbio e acordar para a vida, e tudo por causa de um almoço combinado...bem mesmo no centro da Cova da Moura!

E lá vive-se, trabalha-se, dorme-se, festeja-se (muito!), matam-se saudades (muitas vezes de sítios que não se conhecem), dança-se (muito mesmo!) e come-se (muito bem!). E ao contrário do que eu pensava quem vive na Cova da Moura não se quer fechado, quer mostrar-se, quer conviver e dançar e comer e festejar com pessoas de fora.
E apesar dos problemas (que os há, há droga e há armas e há violência e desemprego e essas coisas todas) lá se vai festejando a Kola San Djon, a festa de São João que lá em Cabo Verde mete pessoas vestidas de barco, muita música e muita kola ("então?então?" gritava hoje uma senhora desesperada para dançar). E noutro dia qualquer lá se festeja outra coisa, nem que seja o fim-de-semana,porque é fim-de-semana e ao fim-de-semana ninguém se deita de noite...espera-se sempre pela manhã!
E eu gostei muito de lá ter ido e vou gostar de lá voltar (ficou prometida a cachupa de atum...nham, nham!).