Bem se podia chamar assim a minha série favorita do momento. E, oh! espanto dos espantos, é portuguesa. Bem, portuguesa, portuguesa até nem é bem, é uma adaptação de uma série espanhola...que a bem dizer inspirou-se livremente numa outra norte-americana.
Passa-se nos anos sessenta. Nos finais dos anos sessenta. As personagens vivem o seu dia-a-dia e a História (que naquela altura eram apenas as notícias) entra-lhes pela vida dentro. Chama-se
Conta-me como foi.
E apesar de todo o meu cepticismo, incredulidade e azedume iniciais ("ah pois sim já estou mesmo a ver vão dar cabo daquilo tudo, nunca vão conseguir fazer uma série tão boa quanto as outras, blá, blá, blá, resmunguice práqui,resmunguice práli") tenho que admitir: a série está MA-RA-VI-LHO-SA.
Mesmo.
Os cenários estão quase perfeitos (um ou outro anacronismo, mas ninguém repara, só eu), o guarda-roupa está óptimo, a maquilhagem também, os actores estão irrepreensíveis. Todos. O Miguel Guilherme, o pai honesto e trabalhador. A Rita Blanco, a mãe doméstica e dedicada (com um penteado giríssimo). A Catarina Avelar é a avó viúva e séria que se está a adaptar aos tempos modernos. A Rita Brutt é a filha mais velha , a menina que cresce numa sociedade conservadora e que não sabe se a siga ou se a mande à fava. O Fernando Lopes é o universitário revolucionário, e o Luís Ganito é o filho mais novo, o que se mete em grandes aventuras, o que nos conta a estória e o que está sempre a fazer asneiras. O que está sempre a ser mandado para o quarto porque não pode ouvir as conversas dos crescidos
.
Para quem só ouviu murmúrios de outras décadas, não há melhor maneira de perder uma horinha dos serões (ainda há serões?) de Domingo para ter uma amostra do que era a vidinha do nosso Portugal à beira-mar plantado, orgulhosamente só, mudo nos gritos de liberdade, a trabalhar para pôr pão na mesa.
Porque apesar da minha idade avançada, não sei o que é não poder falar, não sei o que é não ter comida na mesa, não sei por quanta coisa passaram as pessoas antes de mim. Mas também não me quero esquecer.